ATA DA SÉTIMA SESSÃO ORDIÁRIA DA QUINTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA NONA LEGISLATURA, EM 24.03.1987.
Aos vinte e
quatro dias do mês de março do ano de mil novecentos e oitenta e sete
reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de
Porto Alegre, em sua Sétima Sessão Ordinária da Quinta Sessão Legislativa
Ordinária da Nona Legislatura. Às quatorze horas e quinze minutos foi realizada
a Segunda chamada, sendo respondida pelos Vereadores Adão Eliseu, Antonio
Hohlfeldt, Aranha Filho, Bernadete Vidal, Brochado da Rocha, Caio Lustosa,
Cleom Guatimozim, Clóvis Brum, Ennio Terra, Frederico Barbosa, Getúlio
Brizolla, Gladis Mantelli, Hermes Dutra, Isaac Ainhorn, Jorge Goularte, Jussara
Cony, Lauro Hagemann, Paulo Satte, Pedro Ruas, Raul Casa, Teresinha Chaise,
Artur Zanella e Nilton Comin. Constatada a existência de “quorum”, o Sr.
Presidente declarou abertos os trabalhos e determinou que fossem distribuídas
em avulsos cópias da Ata da Sexta Sessão Ordinária, que foi aprovada. À MESA
foram apresentados: pelo Ver. Antonio Hohlfeldt, 02 Pedidos de Providências,
solicitando colocação de fiscais da SMT ou da própria empresa de ônibus no
terminal da Linha 90 – Morro Santana; plantio de árvores na Rua Banco Inglês,
entre as Ruas Mutualidade e Caixa Econômica; pelo Ver. Aranha Filho, 01 Pedido
de Providências, solicitando que o Órgão Executivo determine à SMEC a
obrigatoriedade de enfatizar, nos programas das Disciplinas de História e
Estudos Sociais, o conteúdo de História de Porto Alegre; 01 Pedido de
Informações, acerca de vistorias realizadas pela Comissão de Controle aos
Incêndios da SMOV, irregularidades apresentadas e vistorias programadas; pelo
Ver. Isaaci Ainhorn, 01 Pedido de Providência, solicitando poda das árvores da
Rua Santa Cecília, no trecho compreendido entre a Av. Protásio Alves e a Rua
Cabral; pelo Ver. Lauro Hagemann, 01 Pedido de Providências, solicitando
iluminação pública (bico de luz), em frente ao nº 1250 da Estrada José Cardoso
da Costa, localizada no Cantagalo; 01 Pedido de Informações, acerca dos
funcionários admitidos pela FESC e EPATUR no decorrer do ano passado e deste
ano; pelo Ver. Nilton Comin, 01 Pedido de Informações, acerca do número de
funcionários da Secretaria Municipal de Saúde e Serviço Social e do Departamento
de Vigilância Epidemiológica daquela Secretaria; pelo Ver. Pedro Ruas, 02
Pedidos de Providências, solicitando limpeza e capina no passeio da Rua Dona
Laura, esquina com a Av. Goethe; limpeza e capina na Praça Antônio Saint Pasteu
Freitas. Do EXPEDIENTE constataram: ofícios nºs 136/87, da Casa Civil do
Governo do Estado do Rio Grande do Sul; 155; 159; 156; 158/87, do Sr. Prefeito
Municipal; Ofício Circular nº 125/87, da Câmara Municipal de Curitiba. Em
COMUNICAÇÕES, o Ver. Isaac Ainhorn teceu considerações sobre a crise
habitacional sem precedentes hoje enfrentada pelo povo brasileiro, salientando
ser o direito de moradia básico do homem e analisando as causas e conseqüências
dos problemas existentes nesta área. Criticou a extinção, pelo governo Federal,
do Banco Nacional de Habitação. O Ver. Cleom Guatimozim comentou notícias
publicadas pela imprensa local, de que vários Vereadores da Casa não assinaram
o pedido do Ver. Adão Eliseu, de constituição de uma Comissão de Inquérito para
averiguar denúncias de irregularidades no mapa do PDDU utilizado pela
Secretaria Municipal do Planejamento, esclarecendo os motivos pelos quais a
maioria de sua Bancada não assinou tal solicitação. O Ver. Hermes Dutra
comentou o pronunciamento, de hoje, do Ver. Cleom Guatimozim, acerca da
solicitação do Ver. Adão Eliseu, de constituição de uma CPI para averiguar
denúncias de irregularidades no mapa do PDDU utilizado pela Secretaria
Municipal do Planejamento. Protestou contra a política vigente no que se refere
ao Imposto de Renda, salientando o alto valor cobrado dos contribuintes e a
forma de devolução do mesmo adotado pelo Governo Federal. Falou sobre medida
adotada pelo Governador Moreira Franco, do Rio de Janeiro, que permitiu a
abertura de locais para a coleta das apostas do jogo do bicho. O Ver. Clóvis
Brum reportou-se ao pronunciamento, de hoje, do Ver. Hermes Dutra, acerca da
permissão dada pelo Governador Mareira Franco, para a abertura de locais
destinados à coleta das apostas do jogo do bicho, defendendo a legalização
deste jogo no Brasil. O Ver. Pedro Ruas denunciou o descaso a que está relegada
a Justiça do Trabalho, comentando movimento de paralisação dos servidores da
mesma, a ser realizado dias vinte e cinco ou vinte e oito, discorrendo acerca
dos problemas encontrados na defesa dos direitos do trabalhador. Em COMUNICAÇÃO
DE LÍDER, o Ver. Adão Eliseu teceu comentários sobre a CPI solicitada por S.
Exa. Para tentar averiguar denúncias de possíveis irregularidades no mapa do
PDDU utilizado pela Secretaria Municipal do Planejamento, dizendo-se surpreso
com o posicionamento de alguns Parlamentares que não apoiam a instalação da
CPI, analisando o assunto. O Ver. Antonio Hohlfeldt comentou notícia publicada,
hoje, no jornal Correio do Povo, sob o título “Prédio condenado impede aulas”,
destacando o grande número de prédios escolares no Estado sem condições
apropriadas de funcionamento e falando dos problemas que este fato ocasiona à
população. Denunciou o estado precário em que se encontra a Escola Estadual Dom
Diogo Souza. O Ver. Nilton Comin discorreu sobre a grande quantidade de
estabilizantes artificiais utilizados para a conservação de sucos industriais e
as conseqüências que isso acarreta ao consumidor, reportando-se a
pronunciamentos já feitos anteriormente, nesta Casa, a respeito. Ainda em
COMUNICAÇÕES, o Ver. Frederico Barbosa teceu comentários acerca das más
condições da estrada que liga Canela à Cascata do Caracol, destacando a
necessidade de maior atenção para o setor de turismo do Estado, a fim de que
seja incentivada a vinda de visitantes e divisas para a Rio Grande do Sul.
Disse que a Estrada Juca Batista, de responsabilidade municipal, está a exigir
providências urgentes para recuperação. Ainda em COMUNICAÇÃO DE LÍDER, o Ver.
Aranha Filho comunicou que sua Bancada procederá a uma análise da solicitação
do Ver. Adão Eliseu, de uma CPI para averiguar possíveis irregularidades no
mapa do PDDU utilizado pela Secretaria Municipal do Planejamento, para, ainda
hoje, tomar um posicionamento a respeito. Relatou caso ocorrido com um
contribuinte municipal que não conseguiu pagar com cheque uma conta vencida no
DMAE, salientando sua surpresa frente ao fato de que muitos órgãos não estão
aceitando esta forma de pagamento. E o Ver. Hermes Dutra comunicou resoluções
tomadas pelo PDS com visitas a uma movimentação maior de seu Partido para
renovação de sua política de atuação, falando de seminários e encontros
regionais que serão realizados para a efetuação de estudos concretos do
assunto. Durante os trabalhos, a Sr.ª Presidente respondeu Questão de Ordem do
Ver. Hermes Dutra acerca do horário regimental de término da presente Sessão.
Nada mais havendo a tratar, a Sr.ª Presidente levantou os trabalhos às quinze
horas e quarenta e cinco minutos, convocando os Senhores Vereadores para a
Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos
pelas Vereadoras Teresinha Chaise e Gladis Mantelli e secretariados pelos
Vereadores Gladis Mantelli e Frederico Barbosa. Do que eu, Gladis Mantelli, 1ª
Secretária, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada,
será assinada pelo Sr. Presidente e por mim.
A SRA. PRESIDENTE: Havendo número legal,
declarado abertos os trabalhos da presente Sessão.
A Ata da Sessão anterior e o ementário do Expediente estão distribuídos
em avulsos.
Em votação a Ata da 6ª Sessão Ordinária. (Pausa.) Os Srs. Vereadores
que a aprovam permaneçam sentados. (Pausa.) APROVADA.
O Sr. 2º Secretário dará conhecimento do Plenário das proposições
encaminhadas à Mesa, hoje, pelos Srs. Vereadores.
O SR. 2º SECRETÁRIO: À Mesa foram encaminhadas
proposições pelos Srs. Isaac Ainhorn (01), Lauro Hagemann (2), Nilton Comin
(1), Pedro Ruas (2), Antonio Hohlfeldt (2) e Aranha Filho (2).
É só, Sr.ª Presidente.
A SRA. PRESIDENTE (Gladis
Mantelli): A
seguir, passaremos ao período de
Primeiro orador inscrito, Ver.
Isaac Ainhorn.
O SR. ISAAC AINHORN: Sr.ª Presidente e Srs.
Vereadores, dentro daquele problema básico que vive a Sociedade brasileira, de
educação, saúde, transporte, alimentação, habitação, pretendemos, hoje, tecer
desta tribuna algumas considerações sobre a dramática crise de moradia. Sim, a
dramática crise que envolve o direito inalienável de todo o cidadão, que é o
direito de morar, o qual está sendo subtraído do povo trabalhador brasileiro. A
crise habitacional em que vive o Brasil nos dias atuais se constitui numa crise
sem precedentes na medida em que atinge, de um lado, os inquilinos, que estão
chegando à triste condição de não conseguirem mais manter a sua condição de
inquilino. Quem morava em seis peças passou para cinco, de cinco para quatro,
de quatro para três para duas e de duas para uma. Ver. Cleom Guatimozim, ainda
resta o triste exemplo das vilas, as pseudo-habitações, às margens do Arroio
Dilúvio, que estão aí para quem quiser ver. Temos aqui, também, a algumas
quadras da Câmara de Vereadores, uma outra pseudo-habitação, que, de repente,
se transforma numa outra vila, na Av. Mauá. Talvez, a estas alturas, já tenha
nome, como “Vila do Muro Mauá”, ou sei eu qual, a exemplo da Vila Dilúvio e da
Vila Borges. E o Governo, nos últimos 20 anos, propalou, de voz cheia, que o
Banco da Habitação tinha vindo para resolver o problema habitacional do País.
Passaram-se 22 anos, e este Banco que, fundamentalmente, se propunha a
incentivar a aquisição da casa própria, sem fins lucrativos, de acordo com seus
dirigentes, que o declaravam em alto e bom som, ele visava ao lucro. Vejam V.
Exas. que este era um banco de natureza social. E acabou. E foi-se a Velha
República, veio a Nova e esta nada apresentou, nos seus três anos de governo,
como alternativa efetiva, no sentido de resolver o déficit habitacional de
nosso País. Pelo contrário, este déficit aumentou; a demanda, substancialmente,
teve seus índices elevados, e a Nova República é a grande responsável por esta
situação que se estabeleceu, de invasão de terrenos, de propriedades, na cidade
de Porto Alegre. E isto não é apenas qualidade, uma peculiaridade da nossa
outrora valorosa Porto Alegre, que, nesta semana, comemora seus 215 anos de
existências. Esta realidade atinge a todas as grandes capitais brasileiras. E a
Vila Pirulito, que existe na entrada da “Free-Way”, com suas montanhas de lixo,
é um exemplo típico das demais vilas pirulitos que existem na entrada de todas as
capitais brasileiras. Talvez o povo brasileiro, sempre muito esperançoso,
sempre muito crente, tenha acreditado que a Constituinte viria para atacar de
frente estes problemas. E o que acontece? Os Prefeitos são os que sofrem
basicamente o ataque. A Prefeitura de Salvador, a Prefeitura de Recife, a
Prefeitura de Porto Alegre têm que enfrentar o dia a dia desta dramática
situação, eis que está o Presidente da República reunido no sítio de lazer do
seu fraternal amigo Mathias Machline para encontrar soluções. E qual Ministro
da Fazenda vai ficar! O ex-Ministro da Agricultura inicia a trajetória igual a
do seu antecessor, de viajar a Brasília, agora, com um embaixador, um
embaixador bom, porque é Nova República e da Velha República. Ver. Jorge
Goularte, o embaixador, para ser bom, tem que conhecer os meandros do caminho
de chegada ao poder. Este embaixador ao poder. Este embaixador que está lá,
este conhece os meandros do Ministério da Fazenda, porque ele já fez esta mesma
trilha já foi percorrida por este mesmo Governador, só que, naquela época,
justiça seja feita, nomeado. Hoje, foi eleito como Embaixador numa chapa por
eleições diretas. Justiça seja feita: quem ganhou e deve levar o mérito, mas
não precisava, cinco dias após as eleições de 15 de novembro, trair, como se
traiu, o povo brasileiro, liquidando com o cruzado. O cruzado valeu só até o
dia 15, porque, depois do dia 15, “deu para o cruzado”. Até o cruzeiro foi
congelado. E nós, aqui em Porto Alegre, assistimos ao Diretor do DEMHAB, um
homem com extrema sensibilidade, que está começando a enfrentar, no Ano
Internacional da Habitação... Este ano, Ver. Comin, é o Ano Internacional da
Habitação, ano este implantado pela Organização das Nações Unidas, mas depois
que se extinguiu o Banco Nacional da Habitação – BNH, que não tinha nada que
ser extinguido. Tinham é que mudar o BNH ao invés de estarem construindo
mansões para ricos. Tinham que fazer projetos para a pobreza, para o povo
trabalhador, para resolverem os problemas da Vila Pirulito, de toda esta gama
de vilas que existem em Porto Alegre.
Pois, ontem, assistimos, aqui em Porto Alegre, à invasão de terras. É o
grito dramático desta gente que tem outra alternativa, que se sente desamparada
por um governo federal responsável por esta situação, que assiste impassível,
que está de costas para o drama social do povo brasileiro. Então preocupados
com outras questões, talvez não tão grandiosas, mas de costas para o drama
social e esqueceram, Sr.ª Presidente, daquilo que dizia e pregava Tancredo
Naves: “Enquanto houver um brasileiro com fome e enquanto houver um brasileiro
sem teto, não existe prosperidade”. Mas a mesma prosperidade do Sr. Delfim,
Ministros da Fazenda e Planejamento está aí. Vira e muda e continua a mesma
coisa. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
A SRA. PRESIDENTE: O Ver. Inácio Neis transfere o seu tempo para o Ver. Cleom
Guatimozim.
O SR. CLEOM GUATIMOZIM: Sr.ª Presidente e Srs.
Vereadores, o jornal de hoje, mais de uma vez, trouxe o nosso nome como um dos
Vereadores que se negaram a assinar o pedido de CPI feito pelo companheiro de
Bancada Adão Eliseu. Como acho que isto está muito repetido – faz três dias que
o jornal vem publicando -, achei que era ora de dar uma explicação, dizendo
que, na Bancada do PDT, a maioria não assinou, exatamente a maioria requerida
por um companheiro de Bancada que tem todo o direito de fazê-lo e de procurar,
neste Plenário, o número necessário para a instalação de uma CPI. Inicialmente,
quero-me desculpar com o PFL, que me pediu explicações hoje pela manhã, dizendo
que a Comissão, segundo estamos informados, teria nascido das mãos do meu
companheiro Adão Eliseu, por uma menção que lhe teria feito o Sr. Presidente
Municipal. Ela não nasceu no seio da Bancada, não foi resultado de uma reunião
de Bancada e não foi debatida. Considerando que a maioria da Bancada não
assinou, não pode ser considerada uma CPI da Bancada. Essa explicação queria
dar ao PFL. O motivo que levou a mais da metade da Bancada a não assinar é a
incerteza da denúncia, porque o Ver. Werner Becker, denunciante, é um Vereador
que está acostumado a defender na Justiça as suas idéias, e entendemos que, se
ele chegou a esta Liderança pedindo que não saísse CPI, é porque V. Exa. não a
desejava. Se desejasse, poderia, como Vereador, entrar com a Comissão.
Parece-me que os motivos para a CPI – um pedido do Sr. Prefeito em face de uma
denúncia do Ver. Werner Becker – não embasam uma Comissão de Inquérito. Não vai
dar em nada porque não há o ilícito, o arranhão. Estive olhando os mapas
apresentados. O mapa original – perdoem-me a falta de modéstia – tem, como
primeira assinatura, a assinatura deste Vereador como Presidente da Câmara
Municipal. Seguem-se as assinaturas dos demais Vereadores, e à direita, no
outro lado do mapa, a assinatura do Sr. Prefeito Municipal Guilherme Socias
Villela. Qualquer outro mapa apresentado não é o original.
O Sr. Adão Eliseu: V. Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Ver. Cleom Guatimozim, Líder de minha Bancada,
pergunto a V. Exa.: se o Ver. Werner Becker não desejava a Comissão de
Inquérito, por que fez aquele aparato todo no gabinete do Sr. Prefeito,
acompanhado de vários assessores, técnicos, de um Vereador, o Ver. André
Forster (e lá me encontrou e ao Ver. Raul Casa e fomos convidados para assistir
à exposição que ele faria)? Por que esta denúncia? Acho, a meu ver, que, se não
quisesse a CPI, não haveria motivo para denunciar erros, ilícitos por parte da
Secretaria do Planejamento. Não dá para entender. Acho que o Prefeito agiu bem.
Pediu-me, e está o Ver. Raul Casa de testemunha, para que eu tomasse as
providências, como Vice-Líder, no sentido da abertura de uma CPI para mostrar
que quem não deve não teme. Por que não fazer? Agora, sou de parecer que quem
acusa é que poderia fazer a CPI. Não sei por que não fez. Não sei qual o
objetivo dele, desta balbúrdia que ele fez.
O SR. CLEOM GUATIMOZIM: Não está em discussão, nem
poderia estar, a legitimidade que tem V. Exa. de requerer a Comissão.
O Sr. Adão Eliseu: Apenas estou explicando a
V. Exa. a sua afirmação reveladora de que o Ver. Werner Becker o teria
procurado e pedido que não se abrisse a Comissão, que não se instalasse a CPI.
Então, por que ele fez tudo isso, se vai pedir ao Líder do PDT para não
realizar a instalação da CPI? Qual seria a razão?
O SR. CLEOM GUATIMOZIM: O Ver. Werner Becker, ao
levar ao gabinete do Prefeito, disse que desejava uma sindicância para apurar
aquilo que ele estava levando ao Prefeito Municipal. Ele não desejava uma CPI,
motivo pelo qual ele foi ao Prefeito.
O Sr. Adão Eliseu: Mas não foi o que ele disse
lá.
O SR. CLEOM GUATIMOZIM: V. Exa. estava no gabinete e
recebeu essa incumbência, Vereador. Mesmo que não tivesse recebido, V. Exa.
poderia pedir Comissão de Inquérito para aqueles casos em que acha que existe
qualquer coisa de errado. É até um dos deveres do Vereador. A nossa posição é
exatamente de esclarecer. Faz três dias que o jornal ataca a maioria da
Bancada, que se negou a assinar. A negativa não foi ao grande companheiro Adão
Eliseu. Esse não teria a negativa da Bancada. A negativa foi pela falta de
consistência das acusações e do que deve ser apurado. Então, se a maioria
esmagadora da Casa não assinou, é porque não há uma consistência, ou, então,
nós vamos chegar naquele ponto – e agora falo para a imprensa, Vereador: a
minoria está certa, e a maioria toda, que se negou a assinar a CPI, está
errada. O Ver. Adão Eliseu estava movido por um pedido que lhe fez o Prefeito e
por aquilo que ele assistiu no gabinete. Legítima sua atitude que, repito, não
está em discussão. Está em discussão a posição daqueles que entendem que não
constitui ilícito que é uma CPI que não vai dar em nada, que nem o próprio
denunciante a deseja. Então, devidamente autorizado, falo em nome da maioria da
Bancada para dizer que eu não assino CPI a não ser que tenha um fundamento, que
haja um denunciante que venha a esta tribuna, que peça providência. Então, aí,
estou disposto a assinar.
O Sr. Clóvis Brum: V. Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Eu assisto, de maneira inusitada, essa formalização
da Comissão de Inquérito, até porque tem sido normal, aqui na Casa, Ver. Adão
Eliseu, ser formulado o pedido de CPI sempre pelo denunciante. Surpreendeu-se a
atitude do Ver. Adão Eliseu. No, entretanto, eu concordo, perfeitamente, que
não restava uma outra alternativa ao Ver. Adão Eliseu, Vice-Líder do PDT, ao
assistir as denúncias na presença do Prefeito e não ficar de braços cruzados.
Andou correto o Ver. Adão Eliseu. As coisas públicas não são tratadas no campo
da amizade. Eu não assinei a Comissão de Inquérito e não assinei, em hipótese
alguma, não porque V. Exa. tenha pedido, porque o suposto autor das denúncias
deu o encaminhamento para as suas denúncias num fórum que não é o competente. O
fórum competente é a tribuna que o povo deu ao Vereador. Não, antes fez de
maneira pessoal, na presença do Ver. Adão Eliseu, ao Prefeito. Depois que V.
Exa. avisou que entraria com a Comissão de Inquérito, aí sim ele foi à tribuna
formalizar as denúncias. De maneira que eu não assinei! Acho que o Ver. Werner
Becker agiu mal, parlamentarmente falando. O fórum competente é aqui, e não é
no silêncio do gabinete do Prefeito que se trata dessas coisas. Se alguma coisa está errada, é aqui que se
denuncia e é aqui que se pede a Comissão de Inquérito. Esta Comissão de
Inquérito para mim nasceu fruto de um entendimento não satisfeito entre o Dr.
Werner Becker e o Prefeito Collares. Por isso não assinei.
O Sr. Raul Casa: V. Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Com a benevolência da Mesa, citado nominalmente pelo
ilustre, querido amigo Ver. Adão Eliseu, eu vou dar o meu depoimento.
Realmente, o Sr. Ver. Werner Becker levou para a sala do Sr. Prefeito todo um
equipamento onde procurava mostrar ao Sr. Prefeito – comparando mapas – as
discrepâncias que havia entre um e outro. O Sr. Prefeito, realmente estupefato
e até com uma certa irritação, diante daquilo disse: “mas isto aí merece uma
CPI e aqui está o meu Vice-Líder, Ver. Adão Eliseu, que vai requerer esta CPI”.
Bem, a conversa se desenrolou. O Secretário Baggio, presente, começou a dar
explicações que realmente, começaram a tornar quase que inconsistentes as
denúncias que... Aliás, o Ver. Werner Becker nunca usou o termo “denúncia”.
Apenas disse que estava curioso e queria as explicações. Então, o que ocorreu?
No decorrer, o próprio Ver. Werner Becker viu que as coisas não estavam
amparadas a ponto de se requerer uma CPI. Mas o Ver. Adão Eliseu, cheio de
brios, instado pelo Sr. Prefeito, levou adiante a idéia. Nós, da nossa Bancada
– e eu tive a oportunidade de dizer isto ao Ver. Adão Eliseu – iríamos tomar
uma medida que achássemos adequada. Discuti com a Bancada. Sugeri ao nosso
engenheiro, Ver. Aranha Filho, que fizesse alguma coisa no sentido de se
esclarecerem os fatos. O que fez o Ver. Aranha Filho? Solicitou ao Sr.
Secretário do Planejamento que viesse a esta Casa esclarecer tudo aquilo sobre
o que nós conversamos e verificamos no gabinete do Sr. Prefeito. Por isso é que
nós estranhamos, até, que o Ver. Adão Eliseu tenha, de uma certa forma, até nos
atingido quando que talvez a Bancada do PFL não quisesse... Realmente, nós
queremos. Jamais, de minha parte, Ver. Adão Eliseu, quis interferir no trabalho
de V. Exa. Leve às últimas conseqüências o seu trabalho. Mas eu quero-lhe dizer
que, diante daquilo que eu assisti, e como nós temos condições de esclarecer
sem uma CPI, o Ver. Aranha Filho fez a solicitação. Ela está na Casa, o Sr.
Secretário vai comparecer e vamos ver que as denúncias – se é que assim pode-se
classificar – o Ver. Werner Becker são absolutamente inconsistentes.
O SR. CLEOM GUATIMOZIM: Eu concluo, dizendo que nós
apresentamos, neste momento, mais uma vez, o nosso respeito à iniciativa do
Ver. Adão Eliseu, uma iniciativa dele, a que ele tem direito, o resultado que
ele tem o direito de buscar. Mas queremos ressalvar, exatamente, o nome daquele
que não assinaram, que têm aparecido na imprensa como pessoas que não desejam a
solução da CPI. Aqui, ninguém é da Secretaria do Planejamento, ninguém é da
Secretaria de Obras, ninguém lida com os mapas do Planejamento. Logo, ninguém
teria medo, nesta Casa, de uma CPI. A decretação foi, exatamente, da falta de
uma fundamentação maior.
Dada esta explicação, eu espero que como nos últimos três dias os
jornais têm trazido o nome de todos como se tendo negado a assinar eles tragam,
agora, pelo menos uma linha da explicação que damos em nome, se não de todos,
da maioria da nossa Bancada. Sou grato.
(Não revisto pelo orador.)
A SRA. PRESIDENTE (Gladis
Mantelli): O
inscrito em Comunicações é o Ver. Hermes Dutra, que tem a palavra.
O SR. HERMES DUTRA: Sr.ª Presidente e Srs.
Vereadores, embora não seja o assunto do meu pronunciamento, vou dar uma rápida
pincelada sobre o assunto da CPI. Fui procurado pelo Ver. Adão Eliseu e lhe
disse que não assinaria porque nunca tinha visto alguém denunciar e não querer
apurar. Como entendia que a Comissão talvez atendesse a um interesse que não o
de procurar esclarecer, disse-lhe que não ia assinar, mas que, se V. Exa.
conseguisse dez assinaturas e faltasse somente a minha, eu a poria. Mas o Ver.
Adão Eliseu, conseguindo as doze assinaturas, dispensou-me assumido com ele.
Mas, Sr.ª Presidente e Srs. Vereadores, queria-me reportar ao assalto
que o Imposto de Renda está fazendo no bolso do contribuinte brasileiro. O
“Jornal da Tarde”, de São Paulo, está fazendo uma campanha. Muitos até apelam
para que não se pague o Imposto de Renda. Eu não chegaria a este extremo, pois
quem não cumpre uma obrigação corre o risco de ficar inadimplente e, por via de
conseqüência, fica sujeito a uma ação por parte do Governo Federal, via Receita
Federal. Acho que temos que pagar, infelizmente.
Nós, políticos, que ocupamos cargos nos Legislativos, temos que
protestar com veemência, contra este roubo que está sendo feito no bolso dos
contribuintes da classe média. E quero respirar aqui, pela enésima vez, o que
falei em dezembro de 1985, quando o Congresso Nacional – e aí os políticos têm
culpa no cartório -, capitaneando pelo PMDB, aprovou um pacote fiscal elaborado
pelo messias todo-poderoso, Dr. Funaro, fazendo modificações no Imposto de
Renda, sendo que a principal delas era a de que, no próximo ano, em 1986, o que
nos tinha sido tirado pelo governo, ilegalmente, não nos seria devolvido numa
parcela só, e sim em cinco anos. Os políticos aprovaram esse pacote. O PMDB tem
culpa no cartório. Não foram tecnocratas. Foi com o voto do PMDB no Congresso
Nacional. O meu partido, felizmente, votou contra. Denunciei, na época, que
isso era um golpe baixo contra os Estados e Municípios, porque a redução do
Imposto de Renda retido na fonte significava um golpe na receita dos grandes
Municípios e dos Estados. Lamentavelmente, há coisas que o povo não gosta de
ouvir. Estava todo mundo feliz da vida porque estava descontando pouco. Saiu
uma pequena nota no jornal do meu pronunciamento. Recebi mais de vinte
telefones de eleitores indignados que protestavam, alegando que estavam felizes
por estarem descontando pouco, não se dando conta de que isso era uma armadilha
mortal, cujo custo ia ser cobrado neste ano de 87. Eu fui pregar no deserto
durante todo ano. Várias vezes usei esta tribuna alertando, e não recebi o
retorno de quem quer que seja, a não ser algum eleitor meu, indignado, que
dizia que estava contra o meu pronunciamento. Pois, hoje, esses mesmos
contribuintes, eleitores meus e outros não eleitores meus e outros não
eleitores, telefonam, vêm no meu gabinete, protestam no jornal, porque não
agüentam o saque que está sendo feito pelo Imposto de Renda. E vem o Secretário
da Receita Federal, por sinal uma ilustre pessoa que conheço, e até um homem
bem-intencionado, dizer que os computadores da Receita fizeram simulações “mis”
e chegaram à conclusão de que não houve aumento real do imposto a pagar. Eu
acho que esses computadores da Receita estão iguais aos índices que apuram a
inflação. Quando diz em que ela é de 15%. Nós vamos ao supermercado e sentimos
no bolso que ela é de 25, de 30% ao mês. Porque é impossível ter a cara de pau
de vir publicamente a afirmar que o Imposto de Renda não subiu. Foi um golpe
baixo dado contra o contribuinte. Isso vem demonstrar a fraqueza do povo em
relação ao Estado, que não têm instrumentos próprios para se defender. Se nós
vivêssemos num regime parlamentar de governo, isso não aconteceria. O Ministro
da Fazenda seria derrubado por um ato como esse. Mas, lamentavelmente, o regime
presidencialista, entre tantas, falhas, tem essa de usar o País para fazer
testes que ficam muito bonitos escritos em livretos de pós-graduação e PHds de
Universidades do Exterior. Estes testes são feitos com a população brasileira e
não há responsabilização dos que fracassam na política econômica. É triste, mas
isto é próprio do regime presidencialista. Oxalá a Constituinte mude para o
regime parlamentarista de governo! Aí não veremos fatos como este serem repetidos,
porque, se forem, o Ministro cai no outro dia. Diante desse clamor nacional que
se levanta, é de se perguntar: o Governo continuará insensível a isto que, de
norte a sul, se calcula exaustivamente, mostrando que é, efetivamente, um
assalto? E ficam o Ministro Funaro e o Guilherme Quintamilha a repetir e
repetir que não haverá aumento real do pagamento do Imposto de Renda. Haverá,
sim, e está provado em estudos feitos por tributaristas, inclusive, muito
agregado ao partido do Governo e, como têm vergonha na cara, vêm a público e
mostram que seu partido está cometendo este assalto no bolso do povo. Disto o
povo tem que estar consciente e tem que cobrar. Porque o mesmo partido que
faltou em 15 de novembro aqueles votos, deitado em cima da doce ilusão do Plano
Cruzado, é o mesmo que assiste impassível seus representantes meterem a mão no
nosso bolso. Eu tenho a esperança que o Governo mude. Afinal de contas, o
Presidente Sarney viajou de Brasília para São Paulo para participar de um belo
churrasco na casa do empresário Matias Machline para ouvir os empresários que,
segundo os jornais, eram em número de 24. Talvez ele ouça que são mais de 4
milhões de contribuintes que estão sendo achacados pela não-elevação, dentro da
inflação, dos níveis de desconto, dos níveis de abatimento, e pela
não-remuneração do que recolhemos no ano passado. Porque nós recolhemos para o
Governo e não foi corrigido. Não nos deram a menor remuneração. Se nós
atrasarmos o pagamento do Imposto por um dia, há multa e correção monetária do mês.
Infelizmente, o Governo continua fazendo ouvidos de mercador.
O Sr. Aranha Filho: V. Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Realmente, Vereador, o “Leão” está furioso. Há pouco
tempo, à uma hora da tarde, eu estava em contato telefônico com um amigo de
Brasília, e ele me dava conta, exatamente, sobre essa matéria no sentido de que
não seriam os 24 empresários que iriam derrubar o Sr. Funaro, mas, sim, uma
mordida do “Leão”. Diz ele que, hoje, o Ministério da Fazenda está em polvorosa
na Capital Federal e que alguma coisa deve surgir, ainda no dia de hoje. Pelo
menos, foi o que um amigo disse ao telefone: que a Capital Federal estava um
rebuliço só.
O SR. HERMES DUTRA: Sou grato a V. Exa. Que não
seja interpretado como praga, mas tomara que aconteça!
O Sr. Pedro Ruas: V. Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Sou testemunha do pronunciamento de V. Exa.,
proferido da tribuna, com relação ao alerta do desconto do Imposto de Renda,
retenção na fonte... Também, de outro lado, do pronunciamento do Ver. Raul Casa
– que não está presente, mas a quem faço justiça -, que tem se debatido muito
com relação a esse assunto. Digo apenas, além de me congratular com V. Exa.
pela oportunidade e conteúdo do seu pronunciamento, que, nos jornais, constou
uma explicação da mentira aplicada pelo Sr. Funaro a todos os contribuintes
deste País, quando disse que faria modificações em função das diversas
reclamações que chegaram ao Palácio do Planalto. Nada mais fez do que aplicar a
Lei que ele mesmo havia criado. O fato de que a primeira parcela deveria ser
paga em abril e que o resgate seria pago em oito parcelas, já constante da Lei.
O fato de a primeira parcela ser paga em março e o pagamento dividido em seis
parcelas é inovação do Sr. Funaro. É o que se chama, na gíria, de “pega-ratão”.
Como não colou, ele voltou a aplicar a Lei dele mesmo, como se fosse um favor
que fizesse ao contribuinte, o que não é verdade; é uma lei draconiana que ele
queria piorar.
O SR. HERMES DUTRA: Agradeço a V. Exa. e
concluo, fazendo um apelo à ética, que parece estar indo para as “cucuias”.
Vejam V.Exas. que, quando o Sr. Darci Ribeiro, candidato a Governador pelo PDT,
no Rio de Janeiro (por quem não morro de simpatia, diga-se de passagem, mas o
dever de justiça me impõe a fazer este registro), almoçou com um banqueiro do
jogo do bicho, o ilustre Ministro da Justiça veio a público dizer a intervenção
do Estado do Rio de Janeiro pela conivência do Governador Leonel Brizola com o
jogo do bicho. Eu achei que a medida era um pouco exagerada, mas V.Exa. não
deixava de ter razão, pois, afinal, o jogo do bicho é uma contravenção. Agora
pasmem: vejo o atual Governador do Rio de Janeiro, do PMDB Dr. Moreira Franco,
que era do PDS, determinar que se abram lojas no Rio para a arrecadação de
apostas do jogo do bicho. Eu pergunto: será que o Dr. Brossard, dentro do
espírito da Lei, vai intervir no Rio de Janeiro, ou será que o Dr. Brizola não
podia e o Dr. Moreira Franco pode? Eu até sou a favor da legalização do jogo do
bicho. É ridículo ignorá-lo. Em qualquer lugar, em nossa casa, em nosso
trabalho, vemos alguém fazendo o jogo. Mas o ridículo são estes valores éticos
serem jogados fora ao sabor das conveniências. O ridículo é um Ministro de
Estado vir ameaçar de intervenção porque um candidato de um partido almoçou com
um banqueiro de jogo do bicho, e o governador do seu partido, hoje, manda abrir
lojas para arrecadação deste jogo sem que a Lei tenha sido mudada. E o Sr.
Ministro permanece em silêncio. Nós estamos precisando renovar o ensino de
ética nas nossas Universidades. Muito obrigado.
A SRA. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver.
Clóvis Brum pelo tempo que lhe cede a Ver.ª Gladis Mantelli.
O SR. CLÓVIS BRUM: Sr.ª Presidente e Srs.
Vereadores, insiste o Líder do PDS nas coisas que eu considero ultrapassadas.
Disse V.Exa. que é a favor do jogo do bicho e condena a atitude do Governador
do Rio de Janeiro em dar uma abertura maior para este jogo popular. Eu falo
muito à vontade porque já defendi, aqui desta tribuna, a legalização do jogo do
bicho. É uma coisa popular, que está aí, escancaradamente, aos olhos das
autoridades. No meu entender, não constituiu nenhuma contravenção penal. Acho
que ele é igual ao jogo da loteria esportiva, a loto, etc... Não vejo razão
para continuar na clandestinidade o jogo do bicho. Acho que andou certo o
Governador do Rio de Janeiro, que abriu as portas para que milhares de famílias
continuem defendendo a sua sobrevivência nesta atividade. Hoje, por exemplo, eu
diria que milhares de famílias se instalaram com a loto, com a loteria
esportiva e estão sobrevivendo com dignidade. Então, o jogo do bicho é um
trabalho como qualquer outro. É necessário que, de uma vez por todas, se
entenda que a lei é gerada do fato social. A lei não se gera onde não há
necessidade para a sua existência. Eu estou a assistir... E vou apelar à nossa,
à minha Nova República que legalize o jogo do bicho imediatamente. É um fato
social. Ou legaliza, ou vai ter que prender milhões de brasileiros que vivem
desta atividade. Este fato social está a exigir uma lei que legalize a
atividade do jogo do bicho. De maneira, Sr.ª Presidente e Srs. Vereadores, que
a legalização do jogo do bicho é importantíssima.
Evidentemente, num aparte anti-regimental, disse o Ver. Isaac Ainhorn:
“Agora?” É porque ele não era Vereador, aqui nesta Casa, na Legislatura
passada, quando eu já era Vereador. Ele não tomou o cuidado de examinar, não
um, mas vários pronunciamentos deste Vereador, pedindo a legalização do jogo do
bicho. Eu não peço uma coisa do outro mundo. É uma coisa tão simples! Não pode
continuar na clandestinidade um fato social que está a exigir uma lei. E a lei
é simples: é retirar das contravenções penais o jogo do bicho. Não tem outro
mistério. Se dissessem que nós estávamos criando uma lei para esta lei criar um
jogo de azar... mas não, é o contrário, pois existe o jogo do bicho. Para ser
sincero, até eu gosto de apostar no jogo do bicho. Não tenho sorte. Nunca
acertei, mas dou as minhas jogadinhas de vez em quando. Até, aí por fora da
Câmara, parece um companheirinho fazendo o jogo do bicho. Quando eu me encontro
com ele, jogo na placa do meu carro, mas mudei de carro agora e deu azar.
É uma necessidade. A legalização do jogo do bicho é uma necessidade.
Milhares de irmãos nossos sobrevivem disso aí, e, portanto, eu acho que o fato
social está também aí. Falta apenas uma leizinha lá, na Câmara dos Deputados,
para retirar das contravenções penais o jogo do bicho e está resolvido o
problema.
Acho que o Governador do Estado do Rio de Janeiro andou correto. O Dr.
Brizola, diga-se de passagem, também andou correto quando tratou desse assunto
lá. Vamos declarar de sã consciência: o Dr. Brizola viu este assunto como um
fato social concreto no seu Estado e abriu as portas para que as famílias que
vivessem disso aí continuassem trabalhando, ganhando o seu pão e sobrevivendo.
Agora, o assunto é de dimensão nacional. Uruguai há cassinos, roleta e não sei
o que mais. Aqui, o jogo do bicho é o único joguinho que o trabalhador pode
fazer na hora, na obra, na fruteira. Os ambulantes dão uma queimadinha de vez
em quando. O camelô dá o joguinho dele e tal. Quer dizer: é a única coisinha
que restou para o trabalhador. Tirar deles este momento? Por que, se é o
momento que vive o trabalhador em que ele esquece que está mal a comida, que o
serviço está ruim? Ele esquece o clima de violência, ele esquece de tudo
naquele instante. Ele se eleva numa outra dimensão para fazer aquele joguinho
ali, que custa, aí, um, dois cruzados, um e cinqüenta, dois cruzados e
cinqüenta, e se concrntra uns cinco minutos para ver o número que vai jogar:
“eu vou jogar hoje no leão; eu vou jogar no tigre” e tal. Então, aquele momento
de euforia é vivido da mesma maneira daquele vivido pelos homens que gostam de
futebol, que vivem aqueles 45 minutos de vibração, assistindo o seu time
ganhar, perder ou empatar. É a mesma coisa o jogo do bicho. É uma aposta
popular que não tem maldade, que não fins lucrativos. É uma aposta que nasce da
espontaneidade, da simplicidade que nasce do povo mais humilde do Brasil. O jogo
do bicho deve ser legalizado.
O Sr. Jorge Goularte? V. Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Nobre Vereador, acho que V. Exa. enfoca muito bem o
assunto. Eu diria mais, Vereador: estaria o País a receber impostos que hoje
não recebe. Eu iria um pouco mais longe: por que não abrir os cassinos nas
estâncias hidrominerais, nas cidades de turismo, nas cidades que têm condições
para fazer funcionarem os cassinos? Evitaria que os brasileiros viajassem
semanalmente, a colocar o nosso dinheiro para fora do País, jogando no Uruguai,
Paraguai e Estados Unidos. E por perto é muito mais fácil, porque vão de ônibus
ou de carro. Então, tem que se parar com esta falsidade de tentar dizer que não
há clubes, de maneira fechada, existe o jogo e o País não leva nada.
O Sr. Isaac Ainhorn: V. Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Mais uma vez, quero parabenizar-me com V. Exa., um
homem que se tem, permanente, no dia a dia de sua vida política, feito presente
nos assuntos mais variados, mas que dizem com o povão. V.Exa. é um homem tão
integrado no povão, que se confessa, até, um investidor, um apostador deste
jogo que é o jogo do bicho.
O SR. CLÓVIS BRUM: V. Exa. nunca deu uma
jogadinha no bicho?
O Sr. Isaac Ainhorn: Realmente, não sou afeito a
jogos, mas admiro e respeito quem joga. Mas observa V.Exa. que essa arrecadação
deveria estar dentro do cofre do Município...
O SR. CLÓVIS BRUM: Sem dúvida alguma. Seria
uma loteriazinha municipal, para as criancinhas da vila.
O Sr. Isaac Ainhorn: V. Exa. está sempre atento
aos camelôs – V. Exa. é o homem dos camelôs. A classe média está furibunda com
V.Exa.
O SR. CLÓVIS BRUM: Eu concluo, agradecemos o
aparte do Vereador. Não querendo abusar da condescendência da nossa
queridíssima Presidente, no exercício dos trabalhos, gostaria de dar apartes
aos Vereadores Aranha Filho e Hermes Dutra.
A SRA. PRESIDENTE (Teresinha
Irigaray):
A Mesa terá essa tolerância, pedindo que os apartes sejam rápidos.
O SR. CLÓVIS BRUM: Sr.ª Presidente, V. Exa.
continua sendo uma grande Vereadora democrata.
O Sr. Aranha Filho: Vereador, V. Exa. fala no
momento certo e no foro mais certo ainda. Só tenho medo, com respeito ao jogo
do bicho, que, se oficializado, pode estragar. Esse é um medo que eu tenho, que
V. Exa. tem, que todos nós temos com respeito à oficialização do jogo do bicho.
Pode estragar. Agora, com respeito à abertura dos cassinos, é mais do que
momentoso a abertura dessas casas de jogo, principalmente porque já temos
notícia de que para Miami seguem dois vôos especiais, por semana, lotados com
aficionados da roleta, etc., para fazerem sua fezinha lá no Tio Sam. Veja V.
Exa. como andam as coisas por aqui, e nós de olhos fechados.
O Sr. Hermes Dutra: Ver. Clóvis Brum, é só para
ratificar a minha afirmação. Em absoluto sou contra o jogo do bicho. Confesso
que, eventualmente, faço a minha fezinha. Só que sou contra a que seja
considerada contravenção penal. A legalização até acho que vai terminar
estragando. Acho que tem que ser retirado é da Lei das Contravenções Penais. A legalização
até vai terminar estragando. A minha crítica ao Sr. Ministro, e acho que V.
Exa. concorda comigo, é que ele criticou o Gov. Leonel Brizola, que criticou
Moreira Franco.
O SR. CLÓVIS BRUM: Concluo, dizendo que o jogo
do bicho é um fato social e como tal está a exigir uma lei que o retire do rol
das contravenções penais a fim de que a grande massa brasileira, que não tem,
Ver. Aranha Filho, condições de pegar um vôo pelas nossas empresas de avião
para jogar no cassino no Uruguai, mas que faz o seu joguinho até no seu local
de trabalho, possa continuar nessa atividade. E mais: que isso passe a ser a
nossa loteria municipal, arrecadando em favor das crianças carentes dos bairros
das capitais e das cidades brasileiras! Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
A SRA. PRESIDENTE: O próximo orador inscrito é
o Ver. Getúlio Brizola, que cede seu tempo ao Ver. Pedro Ruas.
O SR. PEDRO RUAS: Sr.ª Presidente, e Srs.
Vereadores, o assunto que nos traz, hoje à tribuna, em nosso entendimento, é da
maior importância, da maior relevância para a Justiça como um toda neste País e
para a classe trabalhadora em especial. O que trazemos, hoje, aqui, é,
justamente, a denúncia do descaso a que está relegada a Justiça do Trabalho em
nosso País, em especial, de um ano para cá. (Pausa.) Entrega-me o Ver. Antonio
Hohlfeldt um boletim de mobilização dos serviços da Justiça do Trabalho que
têm, inclusive, um movimento de paralisação marcado para o próximo dia 25 ou
28. Os problemas da Justiça do Trabalho, que atingem diretamente à classe
trabalhadora deste País, iniciam, Ver. Antonio Hohlfeldt, na falta de
funcionários e na péssima remuneração que esses funcionários possuem
atualmente; de outro lado, na falta de Juntas de Conciliação e Julgamento em
todo País, que hoje possui, aproximadamente, 20% das Juntas que seriam
necessárias. Quando se faz este tipo de denúncia, Srs. Vereadores, em geral vem
esse tipo de resposta: há falta de recursos. Em geral, há falta de recursos,
mas não neste caso. Ao final do ano passado, o Governo Federal criou o Tribunal
Regional do Trabalho de Roraima, um território que possui ao todo duas Juntas
de Conciliação e Julgamento. Como não havia nem mesmo ações para fazer
movimentar aquele Tribunal, criaram-se mais cinco Juntas, sendo que uma delas –
pasmem os Senhores – até hoje não teve nenhuma reclamatória trabalhista. Uma
Junta que existe no Território de Roraima e ainda não tem reclamatória
trabalhista...! É um território que não tem industrialização, não tem classe
trabalhadora mobilizada, não tem sindicatos. Pois criaram essas cinco Juntas
para justificar a existência de um Tribunal Regional do Trabalho, que foi
criado em cima de interesses meramente políticos e eleitoreiros. Onde há falta
de recursos? Após anos e anos de reivindicação, criaram mais duas Juntas de
Conciliação em Porto Alegre. Hoje, Srs. Vereadores, o trabalhador que ajuíza
uma ação em Porto Alegre, nas 17 Juntas que existem terá sua primeira audiência
dentro de, aproximadamente, um ano. A Segunda audiência, a audiência de prosseguimento,
de instrução, será, aproximadamente, dois anos após. Claro que há audiências em
que o tempo é menor, pouco menor. Aí, fala-se que o valor seria corrigido
monetariamente. Não é corrigido! Nós tivemos, durante um ano, apenas 0,1% ao
mês do valor nos processos trabalhistas – durante um ano inteiro, na vigência
dos Decretos nº 2.283 e nº 2.284, de 1986, que estabeleceram o Plano Cruzado e
o fim da correção monetária na Justiça do Trabalho. É uma situação de caos
absoluto, Srs. Vereadores. Para nós, que estivemos, ao longo de 10 anos,
diretamente vinculados àquela Justiça do Trabalho, conhecendo os advogados que
ali militam, conhecendo os problemas dos servidores, exemplo do que nos traz,
agora, em boletim, o Ver. Antonio Hohlfeldt, e conhecendo, acima de tudo, o
problema da classe trabalhadora, em especial dos sindicalizados em nosso
Estado, que representam apenas 12% da força de trabalho produtivo no Estado,
são estarrecedores episódios como este da criação do Tribunal Regional do
Trabalho de Roraima, sem Juntas de Conciliação e Julgamento que lhe dessem
amparo, e que aconteça agora, quando se diz que vivemos tempos de abertura
democrática e de governos transparentes.
É uma providência que se impõe à reformulação do Poder Judiciário
Trabalhista. É uma reformulação que se impões a criação de novas Juntas, pelo
menos no Estado do Rio Grande do Sul, na medida em que outros parlamentares
falarão pelos outros Estados, especialmente em Porto Alegre, onde o acúmulo de
processos faz com que juízes dêem, em uma semana, 40, 50 sentenças, Ver. Caio
Lustosa, e V. Exa. sabe disso.
Isso faz com que determinados advogados façam 18, 19, 20 audiências num
dia e faz com que um trabalhador tenha esperar três, quatro, cinco anos para
receber direitos na Justiça do Trabalho. A ninguém beneficia esta situação.
Ninguém tem lucro com esta situação. Poder-se-ia alegar que o empregador, o
patrão, tem lucro com isto. Não tem. Não tem porque fica com problema na
Justiça do Trabalho eternamente e, quando tem que pagar o valor atualizado, que
para o empregado já não vale mais, aí ele pode determinar, inclusive como este
Vereador já viu acontecer, com o fechamento da empresa. A ninguém beneficia
esta situação, nem mesmo ao Governo Federal, que a trata com descaso, porque é
para o Governo Federal que passam a ser dirigidas as críticas. É do Governo
Federal que se cobra uma atitude neste sentido. E a solução é simples. A
criação de Juntas de Conciliação e Julgamento não demanda maiores despesas. Foi
feito um levantamento, já, pela Associação Gaúcha de Advogados Trabalhistas, e
entregue ao Sr. Ministro da Justiça, que demonstra que, apenas que com os
juízes que aí estão, já nomeados e já recebendo da União, e com os mesmos
funcionários, teríamos condições de ter, no mínimo, mais 10 Juntas funcionando
em Porto Alegre. Basta a assinatura do decreto neste sentido.
Então, Srs. Vereadores, qual o motivo, qual a razão por que não se
tomam providências neste sentido? Por que razão o descaso?
O Sr. Aranha Filho: V. Exa. permite um aparte?
(Assentimento do orador.) Vereador, somente em nível funcional, a sua
intervenção na tribuna, fez-me lembrar que há 20 anos, um amigo, que era
porteiro da Justiça do Trabalho, concursado, pediu demissão porque recebera a
sua carteira de solicitador da Ordem do Advogados. Taxaram-no de louco, porque
ele recebia ali alto salário, enquanto iria para um mundo novo, que era tentar
a advocacia. Hoje, não sei quanto é o salário do porteiro, mas há 20 anos atrás
era um salário polpudo.
O SR. PEDRO RUAS: É aproximadamente 1.25, em
relação ao salário mínimo. Aproximadamente um mil, 710 cruzados.
Para concluir, Sr.ª Presidente e Srs. Vereadores, impõe-se uma medida
do Governo Federal, neste sentido, devido ao descaso com a Justiça do Trabalho,
que, em última análise, passa a ser a grande e última alternativa da classe
trabalhadora. É a parte da Justiça que é acessível ao trabalhador e na qual ele
ainda confia. O descaso com a Justiça do Trabalho é um descaso com o próprio
trabalhador do país, porque é ali, na Justiça do Trabalho, que o operário tem a
expectativa de ver repostos, parcialmente, direitos que lhe foram negados
durante o seu período de vínculo empregatício. É na Justiça do Trabalho que
tivemos oportunidade de ver os avanços que teve a classe trabalhadora do país.
E é a esta Justiça do Trabalho que pedimos não a atenção que ela merece, mas um
mínimo de atenção para que ela possa funcionar, ainda, como alguma dignidade e
respeito para todos nós brasileiros. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
A SRA. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Adão
Eliseu em Comunicação de Líder.
O SR. ADÃO ELISEU: Sr.ª Presidente e Srs.
Vereadores, venho a esta tribuna por tempo cedido pelo Líder de minha Bancada,
Ver. Cleom Guatimozim, para falar em torno do assunto abordado por ele no dia de
hoje. O assunto estava contido no primeiro discurso desta tarde e se refere à
Comissão de Inquérito que será instalada, nesta Casa, em torno de denúncias
apresentadas, desta tribuna, pelo Ver. Werner Becker.
Quero-lhes dizer, Srs. Vereadores, que eu não sou nenhum caçador de
culpados, nenhum buscador de problemas. Eu apenas estou cumprindo com a minha
obrigação de Vereador, de parlamentar, e sinto-me muito à vontade a partir do
momento em que as acusações foram feitas contra o Governo Municipal e em que o
próprio Governo Municipal solicitou-me que abrisse a Comissão de Inquérito.
Agora, eu não posso deixar de me surpreender, Srs. Vereadores, e respeito à
opinião de cada um, com o fato de muitos Vereadores não pretenderem, por razões
particulares, integrar essa Comissão e buscar conosco a verdade sobre as
denúncias. Não faço insinuações nenhumas contra ninguém. Não as fiz na
Imprensa. Agora, uma coisa é verdadeira: nem todos os políticos se dão conta de
que, a partir do momento em que nós somos eleitos, nós nos desnudamos, ficamos
transparentes. Nós somos homens públicos, somos vistos de todos os ângulos e
por todos os ângulos nós somos avaliados, somos estudados. O eleitor tem essa
capacidade de estudar o seu candidato, político que elegeu, se ele está atuando
bem ou não. E, realmente, eu não tenho culpa nenhuma de que apareça na Imprensa
o nome daqueles que votaram pela abertura da Comissão de Inquérito e dos que
não votaram. Até acho isso muito normal, e não deve ferir a suscetibilidade de
ninguém. Na minha Bancada, eu tive a maioria das assinaturas. Não me interessam
as razões. Cada um tem os seus motivos. Agora, vou continuar fazendo o meu
trabalho sem ferir a sensibilidade de ninguém, porque eu vim para cá para fazer
um trabalho sério, senão, não viria, pois eu não precisaria estar aqui, como
muitos dos Senhores, e fazer da política uma profissão, pois sou funcionário
público e não precisaria estar aqui para sobreviver e nem para trabalhar. Vim
para fazer um trabalho que o povo, que o eleitor que me elegeu deseja que eu
faça. Não vim também para bancar o D. Quixote. Longe disto. Não tenho a
pretensão de ser honesto, não tenho a pretensão de estar pregado no deserto.
Não gosto desta gente. Estou apenas fazendo o meu trabalho. Agora, esperava a
cooperação de todos Infelizmente, não a tive. Mas vamos continuar trabalhando
juntos. Que cada um faça o seu trabalho! Contem comigo sempre que quiserem e
que estiverem na condição de proponente da abertura de uma Comissão de
Inquérito para buscar verdades em torno de denúncias, em torno de assuntos que
possam parecer obscuros. Era esta, Ver. Cleom Guatimozim, a explicação simples
que gostaria de dar. Não acuso ninguém. Não há o que acusar. Apenas estou
fazendo o meu trabalho. De quem quiser ajudar, de quem achar que se deve buscar
a verdade sobre as denúncias proferidas desta tribuna pelo Ver. Werner Becker
em torno da administração municipal estou e estarei sempre à disposição. Muito
obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
A SRA. PRESIDENTE: Com apalavra, o Ver.
Antonio Hohlfeldt em Comunicação de Líder.
O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Sr.ª Presidente e Srs.
Vereadores, o “Correio do Povo” de hoje publica, na sua página de educação, uma
foto de uma matéria com o título “Prédio Condenado Impede Aulas”, referindo-se
à Escola Engº Rodolfo Arons. Se nós trocarmos a foto, poderemos colocar da Zona
Sul, da Azenha, poderemos colocar de várias localidades do interior do Estado,
porque se somam às dezenas as escolas que a Administração do Dr. Jair Soares
deixou à espera de cair, de se desmontar. Pessoalmente, quero trazer aqui o
caso de uma outra escola em situação exatamente igual, a Escola Dom Diogo de
Souza, lá na Zona Norte. Em 1985, a direção dessa escola pediu que a SMOV
fizesse um laudo a respeito das condições de segurança de um prédio de madeira,
construído há mais de 20 anos, e, se
não me falha a informação, ainda do tempo do Governador Leonel Brizola. A SMOV
concluiu pela interdição do prédio, sob o perigo de que o mesmo poderia desabar
sobre as crianças. O prédio foi interditado e, no início de 1986, a escola
viu-se obrigada a remanejar várias turmas de alunos (turmas da manhã passaram
para a tarde, e as da tarde passaram para um horário intermediário) para tentar
não deixar ninguém sem escola, porque naquele prédio não dava para trabalhar.
Durante a inversão do convênio SMEC/SEC, liderado pelo Prefeito Alceu Collares,
houve a reivindicação de que a Escola Dom Diogo de Souza estivesse entre as
“urgências urgentíssimas” na derrubada do prédio e na reconstrução de um
prédio, até, de alvenaria, se fosse o caso, já que hoje, a alvenaria acaba
sendo mais barata que a madeira. A la. Delegacia de Educação da SEC, através da
suas titular, passou dois ou três meses mentindo, descaradamente, para a
comunidade da “Dom Diogo de Souza”, para o CPM, para a direção da escola,
dizendo que a mesma estava na lista das “urgências urgentíssimas”, até que eu
tive acesso, através do Ver. Valdir Fraga, à lista. E a “Dom Diogo não constava
nas urgências que teriam solução imediata no decorrer de 86. Passou 86, o
prédio trancado, e a direção da escola com um problema grave: como segurar a
gurizada para que não vá para dentro do prédio (pois um prédio em perigo pode
cair a qualquer momento)? No início do ano, a Direção da escola chamou o
DEMHAB, pois que a SEC não faz nada, quem sabe o DEMHAB faz, assim como ajudou
em outras escolas estaduais, até a pedido do Ver. Valdir Fraga, na Zona Sul. O
DEMHAB chegou lá olhou o prédio e a conclusão foi a seguinte: “este prédio está
tão ruim, que não vai sobrar madeira; não há nada aproveitar; podem colocar
fogo”. E se negaram a demolir a obra. E está lá o prédio. Vejam os Senhores:
temos a ausência absoluta da SEC e, agora,
uma posição que eu considero extremamente egoísta do DEMHAB: como não há
madeira para ele usar, para fazer sua política paternalista, assistencialista,
de dar um pedacinho de madeira aqui e ali, então ele não se importa que o
prédio caia em cima das crianças. Danem-se as crianças. Esta é a denúncia que
estamos trazendo ao Plenário, que estamos distribuindo aos meios de comunicação
e pretendemos encaminhar, hoje à tarde, ao Prefeito Collares no sentido de
fazer um apelo para que o DEMHAB - já que a SEC ainda, com a nova
administração, não se conseguiu encontrar, pois o Secretário Bernardo de Souza
se encontra em Brasília e só volta na próxima 4.ª feira – com a orientação do
Prefeito, tenha uma sensibilidade de ajudar a comunidade da D. Diogo de Souza
no sentido de desmontar esse prédio. Eu pretendo, se possível ainda nesta
semana, encontrar-me com o Secretário Bernardo de Souza para tratar deste
assunto. A estas alturas, já não se pede mais para construir o prédio novo.
Está-se pedindo, apenas, para derrubar de uma vez um prédio imprestável para
que não se tenha, quem sabe, um desastre irreparável com alguma criança. Para a
criançada, um prédio sinistrado é uma aventura real, e ela não se dá conta do
perigo. É como a história do Teatro S. Pedro, onde se viam uns toros enormes,
até o dia em que se meteu o dedo e o dedo furou o toro inteiro porque estava inteiramente
comido pelo cupim. Esta é a situação deste prédio da Dom Diogo, que eu acho que
realmente, mereceria uma atenção do DEMHAB na desmontagem imediata e da SEC na
colocação de um novo prédio no interior da escola. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
A SRA. PRESIDENTE: Liderança com o PMDB. Com a
palavra, o Ver. Nilton Comin.
O SR. NILTON COMIN: Sr.ª Presidente e Srs.
Vereadores, andou certo o nobre Ver. Hermes Dutra, quando aqui denunciou o
problema dos conservantes em sucos artificiais. Andou certo V.Exa. Cumpriu o
seu papel como homem público. E andou certo, agora, o Secretário, quando,
através de uma portaria, proibiu os sucos.
É normal, numa sociedade capitalista, quando as produções são muito
grandes, conservarem os seus produtos através de meios artificiais em doses
altíssimas não recomendáveis pela Organização Mundial da Saúde. O que existe,
realmente, é que as sociedades capitalistas não possuem laboratórios adequados
para esta finalidade. Esta é a função de proteger o capitalismo: em primeiro
lugar, a venda; em segundo lugar, a saúde pública. Andou certo V.Exa. E no dia
em que V.Exa., ou qualquer Vereador desta Casa, não o fizer, nós, do PMDB, o
faremos aqui. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
A SRA. PRESIDENTE: O próximo orador inscrito
em Comunicação é o Ver. Frederico Barbosa, que está com a palavra.
O SR. FREDERICO BARBOSA: Sr.ª Presidente e Srs.
Vereadores, gostaria, neste tempo regimental que me favorece, de fazer duas
citações com referências de estradas, uma a nível de turismo estadual e outra a
nível de necessidades absoluta de Porto Alegre.
Quanto à área estadual, gostaria de sugerir, depois de ter sugerido ao
Governador eleito Pedro Simon que reativasse, como tantos outros sugeriram, a
Secretaria de Turismo do Estado do Rio Grande do Sul, que, num de seus
primeiros fins-de-semana, eis que esta semana é dedicada a buscar dinheiro em
Brasília, fizesse uma visita à Cidade de Canela, quem sabe fosse até o Palácio
das Hortências e, mais ainda, de automóvel, uma ligeira visita a estrada do
Caracol.
Ora, Sr.ª Presidente e Srs. Vereadores, nós muito queremos atrair
turistas para o Estado do Rio Grande do Sul. Convidado por amigo, que fui,
neste fim de semana, para subir a serra, fique alarmado com a situação atual da
estrada que liga Canela até a famosa Cascata do Caracol. Para resumir, estando
com um dos meus filhos no carro, recebi a solicitação do meu filho que
informasse que bêbado teria feito o risco que divide as duas pistas na estrada
central. Não é brincadeira: o risco faz os maiores e cômicos trajetos na pista,
eis que a pista deslizou para os dois lados, está completamente estragada e
praticamente intransitável. Nas minhas últimas idas e vindas até aqui a Zona
Sul, pois tenho horror de buracos, à disposição dos porto-alegrenses, não tinha
visto, Srs. Vereadores, coisa igual como esta da estrada do Caracol em Canela.
Ora, querer atrair turismo para o Rio Grande do Sul e deixar um ponto
de real atração neste estado?! Diga-se de passagem, não estou nem mesmo
preocupado, sabendo, como sei, que o Governo do partido a que pertenço deixou o
governo há pouco tempo. Estou, isto sim, não querendo “tapar o sol com a
peneira”, solicitando ao Gov. Pedro Simon que providencie algo que amenize a
situação da população que lá mora, do comércio que lá está instalado e permita
que aqueles que são convidados, atraídos para um turismo na serra gaúcha possam
usar uma estrada de tanto fluxo de veículos.
A Segunda estrada é daqui, a Juca Batista, O Prefeito Collares esteve
em Belém Novo, ouvindo a Zona Sul, como tantos outros bairros ouviu. Uma das
reivindicações mais antigas é a conclusão dos quatro últimos quilômetros da
Estrada Juca Batista a partir da chamada Ponte da Guabiroba, até a entrada de
Belém Novo, que, esgüelada – este é o termo -, muitas vezes deixada de lado com
seus sem número buracos, causa enormes problemas a uma população que até hoje,
sem entrar no mérito, está pensando em emancipar-se do Município de Porto
Alegre. Que o Prefeito Alceu Collares, no seu projeto de governo, que já vai
pela metade e que tão pouco tem mostrado à cidade de Porto Alegre, possa dizer
alguma coisa à população sofrida da Zona Sul, a todos aqueles que precisam e
usam a Estrada Juca Batista como acesso às suas casas, incluindo Belém Novo,
Lami e tantas outras localidades que passam pelo extremo sul da cidade.
Portanto, é um apelo que volto a fazer, depois de tantas vezes vir à tribuna
durante governos, inclusive aos que pertenci, não tendo conseguido sucesso. Que
Belém Novo possa ter uma estrada condizente, que possa ter uma estrada com
menos acidentes, que tenha mais largura e que seja mais acessível a uma área
tão conturbada, tão carente de recursos do Município, como todos aqueles
moradores que estão vinculados, ou, como disse, estrangulados no extremo sul da
Cidade de Porto Alegre! Estes eram os dois apelos ao Governo do Estado,
decorrentes de uma lembrança que se fez de uma ida à serra. Nunca se viu coisa
igual ao que está a estrada que liga Canela ao Caracol. E a que liga Belém
Novo, pelo caráter precário, necessita, urgentemente, do seu alargamento em
seus quatro últimos quilômetros. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
A SRA. PRESIDENTE: Queremos comunicar que, como
a Sessão começou às 14h15min, ela têm, nas terças e quintas, o horário de 1h30mim
improrrogáveis. Estamos dentro do horário. Pediríamos que os Srs. Vereadores
colaborassem com a Mesa para que encerrássemos neste momento.
O SR. HERMES DUTRA (Questão
de Ordem): Lembro
a V. Exa. Que há um acordo das Lideranças, datado de 1983, para que as Sessões
se prorroguem até que todos os partidos que assim o desejarem manifestem-se em
Comunicação de Líder. Sou grato.
A SRA. PRESIDENTE: A Mesa acolhe a Questão de
Ordem. Liderança com PFL. Ver. Aranha Filho.
O SR. ARANHA FILHO: Sr.ª Presidente, Srs.
Vereadores, sinceramente, estava com vontade de colaborar com a Mesa, mas o
Ver. Hermes Dutra, atento, consegue a prorrogação desta Sessão. Venho à
tribuna, usando o tempo de Liderança do PFL, para comunicar que o assunto
amplamente debatido por esta Casa, na tarde de hoje, e amplamente divulgado nos
jornais da capital, desde o final de semana até o dia de hoje, com respeito à
CPI que envolve a duplicidade de mapas do Plano Diretor, será por nós, da
Bancada do PFL, analisado mais uma vez, e certamente, ainda na tarde de hoje,
será distribuída uma nota à imprensa e aos Srs. Vereadores sobre o
posicionamento do PFL. Mas o que me traz à tribuna em nome do PFL, é uma
questão para qual chamo a atenção da Sr.ª Presidente e dos Srs. Vereadores: é
sobre o absurdo de um vexame que um contribuinte local teve que passar junto ao
DMAE ao querer pagar uma conta vencida – e essa conta somava a mais de um mil
cruzados. Mais uma vez o DMAE não aceitou que esse pagamento em atraso fosse
feito em cheque. Isso, sinceramente, não condiz com o que os órgãos
financeiros, não só municipais, como estaduais e federais, propalam quando
dizem que o cheque tem a mesma validade que dinheiro vivo. E qual não foi a
minha estranheza quando, ao mesmo tempo em que falo sobre a não aceitação das
contas pagas em cheque pelo DMAE, a mesma situação aconteceu com o próprio
Banrisul, que não aceita, Ver. Nilton Comin, o pagamento do ICM em cheque.
Então, um amigo disse que sua empresa queria efetuar o pagamento ao Banrisul,
num valor mensal que soma mais de 100mil cruzados, mas que este não permitia
que o pagamento fosse feito em cheque. Exigia, portanto, que os empresários,
não no sentido de querer desconfiar dos seus funcionários, fossem obrigados a
ir até o Banco, com malas, a fim de efetuar o pagamento do ICM em dinheiro
vivo. São duas situações que nós, constrangidos, tivemos que escutar e
assimilar em pleno século XX, próximo do século XXI, onde Bancos e repartições
públicas não aceitam pagamentos vultosos em cheque. Exigem, sim, que esses
pagamentos sejam efetuados em dinheiro sonante. Veja, Sra. Presidente e Srs.
Vereadores, a que ponto nos encontramos em que a desconfiança existe em todo o
lugar e que para provar que estamos tratando com gente séria, é preciso, em
primeiro lugar, provar que somos sérios. É, realmente, uma situação, Sr.ª
Presidente e Srs. Vereadores, absurda em que nos encontramos, mas espero tanto
o Executivo Municipal, o DMAE, e o próprio Executivo Estadual, por intermédio
do Banrisul, analisem e avaliem essa situação e considerem esse fato. Muito
obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
A SRA. PRESIDENTE: Liderança com o PDS. Com a
palavra, o Ver. Hermes Dutra.
O SR. HERMES DUTRA: Sr.ª Presidente e Srs.
Vereadores, eu faço uma comunicação oficial em nome do meu partido que, reunido
desde a semana passada com os Deputados Estaduais e Federais, com os Vereadores
da Capital e com alguns segmentos do partido, tomou uma série de resoluções
para colocá-las em prática a partir da semana que vem. Isto tudo com vistas a
uma mobilização maior do PDS em função da renovação dos seus diretórios
municipais, que deverão ocorrer a partir do mês de agosto, e para as eleições
municipais do ano que vem, não só em Porto Alegre, na Região Metropolitana, mas
como em todo o Estado do Rio Grande do Sul. No dia 11, o meu partido iniciará
uma série de concentrações regionais que começaram pela cidade de Caxias.
Posteriormente, serão estendidas por todo o Estado, proporcionando que os
nossos filiados, os nossos Vereadores, os membros dos nossos diretórios
municipais, as nossas lideranças possam trazer à direção partidária o que
pensam do atual momento político e dar novos rumos ou não à atuação do PDS como
partido de oposição ao Governo Federal e Estadual. Faremos realizar, como ponto
culminante, na cidade de Santa Maria, um Seminário Estadual e um Congresso
Estadual de Vereadores quando reuniremos, em dois dias, toda a nossa
representação no Estado para uma conclusão final de todos esses trabalhos
regionais que se iniciarão dia 11 e de onde se tirará um documento para ser
levado, inclusive, à direção nacional do partido, com vistas a influir na
orientação do PDS. Porque, hoje, o nosso partido, em função da última eleição,
tem uma atuação parlamentar em nível federal muito diversificada,
particularmente em questões que se referem ao mandato presidencial, à atuação
política do partido no plano do Governo Federal, enfim, coisas que estão a
merecer uma manifestação sólida por parte das nossas bases.
Igualmente, o partido, na Capital, resolveu mobilizar-se e a primeira
medida que toma é solicitar à direção regional que decrete a intervenção nas
seis zonais do PDS na Capital. A partir desta intervenção, uma idéia dos nossos
companheiros, de Porto Alegre é a de iniciar uma ampla reestruturação que
possibilite, efetivamente, ao partido mobilizar-se com a potencialidade que tem
e ainda agregar segmentos da sociedade que estão à procura de um partido que
lhes sirva como alternativa, desde que foram enganados pela mirabolante ilusão
do Cruzado I, do Cruzado II, do III, que vai vir aí, e do IV, se nós não
abrimos o olho.
Desta forma, o meu partido tem procurado responder a uma necessidade
social da nossa realidade, com erros, é claro, porque ninguém é perfeito, mas
reconhecendo que é hora de intensificarmos a nossa atuação como oposição à Nova
República, com vistas a que o povo encontre um canal de comunicação que lhe
possibilite jogar para fora o descontentamento com o atual Governo, porque, na
verdade, não é mais possível que o povo continue sem canais de comunicação que
lhes possibilitem extravasar o que pensa e o que sente, dado o comprometimento
dos atuais partidos políticos com o Governo Federal.
Neste sentido, então, parte o meu partido para uma nova postura para a
qual esta tribuna deverá ser usada, diuturnamente, na defesa intransigente do
nosso programa partidário e com a denúncia diária dos erros, das falácias e das
promessas deste incompetente Governo Federal. Sou grato.
(Não revisto pelo orador.)
A SRA. PRESIDENTE: Nada mais havendo a tratar,
declaro encerrados os trabalhos da presente Sessão e convoco os Srs. Vereadores
para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental.
Estão levantados os trabalhos.
(Levanta-se a Sessão às 15h45min.)
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